Um galope para a eternidade: O adeus a seu João de Berto.


Ainda na madrugada, antes que o sol nascesse, como de costume faz o sertanejo, levantou já cansado da luta diária, foi na baia, escolheu a sela, os melhores arreios e ornou o cavalo do destino.

No cercado da vida terrena, olhou e viu a família volumosa de parentes na expectativa para assistir o grande ato da despedida. Cruzou a cancela e cortou a rama com o compasso que de lento passou a ser ligeiro de um cavalo bem guiado.

Neste momento, dos entes queridos, escorre a lágrima verdadeira igualmente o orvalhar da vegetação que também chora a partida do seu companheiro de trajetória. Enquanto a natureza se despede à sua maneira, o compasso vai se apressando, e cada vez mais se distanciando do terreno habitado.

A trilha sonora não podendo ser diferente, carregada no vento frio da solidão, faz efeito sonoro trazido do distante, como o eco do grito estridente do aboio que outrora foi dialeto com os animais da lida. Agora o som, é efeito das batidas do coração, que fazem compasso com o mugir do gado que chora o adeus.

Já distante da realidade, vê-se ao longe um pequeno detalhe do tropé ligeiro do cavalo, o balançar do chapéu, marca JB, que luta contra o vento pela velocidade que o animal atinge. Imagem de dureza para quem ficou a observar.

Quando a barra quebrou, o encanto já havia sido feito, e a passagem já era realidade. O cavalo cruzou a cancela da vida e o sopro do destino desprendeu o cavaleiro da terra, restando a saudade para quem ficou. Resta pintado na memória dos seus, o quadro do último galope, que começou muito cedo, antes mesmo que o galo cantasse e o gado acordasse, só para não ter que se despedir dos amigos da lida, neste galope para a eternidade.

Por Jessé Aciole.