Palocci diz que Lula atuou ‘diretamente’ em pedido de propina; assessoria do ex-presidente afirma que é mentira.
O ex-ministro Antonio Palocci, delator na Lava Jato, prestou um novo depoimento ao Ministério Público e disse que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em alguns casos, cuidou “diretamente” do pedido de propina.
Procurada, a assessoria de Lula disse que Palocci fala mentiras sem provas contra o ex-presidente, numa tentativa de fechar acordo de delação para sair da prisão.
Palocci foi ouvido em 26 de junho por investigadores da Operação Greenfield, que apura supostas irregularidades em fundos de pensão.
“Antes de ele [Lula] ser candidato a presidente naquela campanha vitoriosa de 2002, é quando pela primeira vez o PT elege um representante na Previ, portanto o PT não era governo, mas havia eleito um representante da Previ dos funcionários. E quem procura o presidente pra procurar uma interferência nesse fundo é Emílio Odebrecht, em nome da Braskem, que tinha sociedade com os fundos de pensão e estaria tendo por parte desse representante do PT muitas dificuldades. Então, ele nos pede para interferir nisso. Esse foi evento mais antigo de atuação que eu conheço dos políticos do PT em relação a fundo de pensão”, disse Palocci.
A Odebrecht declarou que as notícias de investigações envolvendo a empresa comprovam que a colaboração com a Justiça é ampla e consistente e que a Odebrecht reafirma compromisso de atuar com ética, integridade e transparência.
Palocci afirmou ainda que a descoberta do pré-sal causou um clima de “delírio político” no governo, e que Lula pediu vantagens indevidas diretamente.
“No governo federal em particular e junto ao presidente Lula o pré-sal apareceu como uma, ele chamava até como um passaporte para o futuro, um bilhete premiado, quer dizer, ao final do seu governo ele recebe um senhor bilhete premiado. E como ele já tava bem avaliado naquela época, o pré-sal se torna quase um motivo de delírio político no ambiente governamental”, afirmou.
“O presidente Lula começa também a se descuidar da parte legal da sua atuação como presidente e passa a atuar diretamente no pedido de propina”, acrescentou.
O investigador, então, pergunta se a partir da descoberta do pré-sal é que Lula passa a atuar.
“Ele sempre soube que tinha ilícito e sempre apoiou as iniciativas de financiamento ilícito de campanha, etc. Mas no caso, no pré-sal, ele começou a ter uma atuação pessoal”, afirmou Palocci.
Segundo o ex-ministro, Lula também atuou na negociação de compra de caças para as Forças Armadas.
“O presidente chegou a assinar um protocolo, um contrato com o presidente francês Nicolas Sarkozi, no dia 7 de setembro. Eu lembro que era 7 de setembro porque o presidente francês veio pras comemorações do 7 de setembro, e passou a madrugada inteira com o presidente Lula, ministro da Defesa, e saiu dessa reunião de madrugada com um documento assinado pelos dois presidentes sobre a compra de caças Mirage, a compra de helicópteros e a compra de submarinos franceses. Uma iniciativa completamente inadequada, porque estava sendo conduzido tecnicamente pela área da Defesa e foi atropelado por ambos os presidentes, da França e do Brasil e isso gerou todo tipo de propina. Então não foi só na sonda”, declarou.
O governo brasileirou optou pela compra dos caças suecos. Segundo Palocci, Lula também se envolveu diretamente na obra de Belo Monte, que gerou propina.
“Também posso citar o caso de Belo Monte, onde o presidente também se envolveu diretamente na operação dos fundos de pensão e sabia que a partir desse investimento e desse projeto haveria pedido de propina”, declarou.
Segundo o ex-ministro, ainda a então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, agia como Lula.
“Em relação aos fundos ela foi igual ao presidente Lula, ela insistia, inclusive usava muito que aquilo era uma ordem do presidente Lula e ela fazia reuniões com os fundos na Casa Civil e forçava a barra pros fundos investirem”, declarou.
A defesa da ex-presidente Dilma usou os mesmos argumentos da defesa de Lula. Disse que Palocci mente, que ele não apresentou provas e que, na esperança de sair da prisão, insiste em elaborar narrativas para agradar os algozes.
O juiz da 10ª Vara Federal, Vallisney de Souza, marcou para 20 de novembro depoimentos dos ex-ministros Palocci e Nelson Jobim. Eles vão falar no processo que investiga irregularidades na compra dos caças suecos durante o governo Dilma Rousseff.
DO G1