Humberto Costa fala de sua posição após o Impeachment.
Wendell Galdino: Dr. Humberto Costa, como fica agora o PT após o impeachment da presidente Dilma?
Humberto Costa:
Bem, de agora em diante a luta continua, nós vamos estar no campo das oposições. Vamos fazer uma oposição firme a esse governo que não tem legitimidade para o exercício do poder.
Vamos engrossar as denúncias de que nós passamos por um processo político, e não um processo de impeachment, cujo o objetivo era retirar uma presidente eleita por mim de cinqüenta e quatro milhões de eleitores e que foi destruída por sessenta e um Senadores.
Nós entendemos que esse governo além de não ter a legitimidade pra exercer o poder, é totalmente rejeitado pela sociedade.
Se a população não queria mais Dilma no governo, com toda certeza ela (a sociedade) não quer o Michel Temer.
Então, por isso também é que nós estamos engrossando esse coro, que tenhamos eleições diretas o mais rapidamente possível, pra que possamos ter um governo eleito e que tenha sim a legitimidade para tirar o Brasil da crise.
Wendell Galdino: Qual a sua análise do processo de impeachment no Senado. Pois houveram boas defesas com argumentos convincentes, mas mesmo assim cassaram a presidente. Você acredita que houve uma tendência para se cassar a Presidente naquele momento?
Humberto Costa: Na verdade ali havia dois tipos de senadores. Os que sabiam que a presidente Dilma não tinha cometido nenhum crime de responsabilidade é votaram contra o impeachment, e os outros que sabiam sabiam que não havia crime de responsabilidade fiscal, mas que mesmo assim decidiram votar pelo afastamento da presidente. A grande maioria alegaram que ela não tinha mais governabilidade pra exercer o Poder, daí por mais profundos que fossem os nossos argumentos, essas pessoas já estavam definidas em cassar a Presidente. Eles já estavam com as suas posições firmadas e nada mais mudaria os seus votos.
Porém eu acredito que conseguimos na sociedade construir uma narrativa, uma versão de que realmente houve um processo muito mais político, do que processo jurídico que tivesse respeitado a constituição.
Wendell Galdino: Enfim, cassaram a Presidente, mas não tiraram de Dilma Rousseff os direitos políticos. Foram dois pesos e duas medidas?
Humberto Costa: Bom. Essa é uma outra grande contradição. Na verdade, eu acredito que isso aconteceu por dois pontos.
Primeiro pelo fato de que eles sabiam que ela não cometeu um crime de responsabilidade. De certa maneira é uma forma de aliviar a culpa pela condenação de uma inocente.
Segundo porque alguns deles entenderam que mesmo que ela tivesse cometido um crime de responsabilidade, a pena era desproporcionalmente grave.
Pra quem não cometeu nenhum ato de corrupção, pra quem não roubou, não tem conta na Suíça, nada que comprove que ela se beneficiou do erário público, enfim nada.
Destituir até o próprio direito de de a pessoa poder trabalhar no serviço público, seria uma pena pesada demais, seria uma injustiça ainda maior.
E eu entendo que isso fez com que houvesse um número expressivo de votos pra que ela não perdesse seus direitos políticos.
Wendell Galdino: E agora qual será a mensagem de Humberto Costa e do próprio PT para a população?
Humberto Costa: A minha mensagem é de que nós temos que reencontrar o nosso caminho com a democracia. Respeitando o desejo do povo.
Não podemos achar que é normal num espaço de tempo, pra ser preciso, 26 anos nós temos em nossa história de democracia dois presidentes da república que sofreram processo de impeachment, ou seja foram cassados.
Há alguma coisa errada na democracia brasileira.
E portanto conforme já disse, nós precisamos nos reencontrar com a democracia. Primeiro pela realização de novas eleições diretas, o mais rápido possível, pra presidente da república. E segundo, nós precisamos precisamos fazer uma ampla reforma política que redesenhe a democracia no Brasil.
E eu acredito no povo, como também acredito que isso é possível. Vamos a luta.
Por Wendell Galdino.