Odebrecht pode abalar estabilidade do governo Temer.
Reportagens publicadas no fim de semana pela revista “Veja” e o jornal “Folha de S.Paulo” a respeito de anexos das delações premiadas de Marcelo Odebrecht e executivos da empresa provocam grandes impactos políticos.
Segundo a revista, o então vice-presidente, Michel Temer, pediu a Marcelo Odebrecht, numa reunião em 2014, ajuda para campanhas do PMDB. O pagamento teria sido feito via caixa 2. O atual ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, teria recebido R$ 4 milhões. O presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), Paulo Skaf, teria ficado com R$ 6 milhões.
De acordo com o jornal, a campanha presidencial de 2010 do tucano José Serra recebeu R$ 23 milhões por meio de caixa 2. Haveria ainda na delação informações de pagamento de propina a contratos da Odebrecht no período em que Serra governou São Paulo.
Todos os acusados negam ter recebido dinheiro ilegal. Eles afirmam que recursos oriundos da Odebrecht foram doações devidamente contabilizadas.
Mas o potencial de dano político é alto. As duas reportagens atingem o presidente interino, que está prestes a ser tornar efetivo, o ministro da Casa Civil, que é o mais próximo auxiliar de Temer, o ministro das Relações Exteriores, potencial candidato a presidente da República em 2018 pelo PSDB ou por um outro partido para o qual migraria, e o presidente da maior entidade empresarial do país, que foi um dos líderes da campanha para a queda de Dilma com um discurso bastante moralista.
Todas as delações precisam vir acompanhadas de provas. Portanto, se confirmadas as revelações apontadas pelas reportagens, haverá um caminho para que elas sejam provadas na Justiça. Já surgiram no noticiário revelações de que Marcelo Odebrecht apontaria caixa 2 nas campanhas presidenciais de 2010 e 2014 de Dilma Rousseff. Agora, além do PT, PMDB e PSDB têm muito com o que se preocupar a respeito das colaborações premiadas da Odebrecht, que podem reacender o debate sobre a anulação da chapa Dilma-Temer.
Os investigadores demandaram que a empresa recuperasse os dados de um departamento interno que ela criou para fazer pagamentos ilegais, sejam puro caixa 2, sejam propina.
Temer confirmou por meio da assessoria que houve a reunião, mas afirmou que os recursos que vieram da empresa foram doações legais. Padilha negou ter recebido R$ 4 milhões e disse que não foi candidato em 2014. Skaf afirmou que não teve nada a ver com o encontro no Palácio do Jaburu e que só recebeu dinheiro legalizado para suas campanhas. Serra também afirmou que só obteve doações regulares e considerou “absurda” a acusação de que contratos da época em que governou São Paulo tenham originado propina da Odebrecht.
Serra ainda deu uma resposta parecida com a de Dilma, dizendo que ninguém foi autorizado a falar em seu nome. Ou seja, se aparecer algo, pode terceirizar a responsabilidade.
De um modo geral, as respostas dos peemedebistas e do tucano lembram muito as dadas pelos petistas: todos receberam apenas doações legais.
Ou Marcelo Odebrecht e seus executivos estão mentindo, o que poderá prejudicar suas delações, ou trarão provas que poderão deixar o mundo político como um todo em apuros. Até hoje, a Lava Jato vem desmontando peça por peça o argumento de defesa dos acusados de que obtiveram doações legais. Vale lembrar que o juiz Sérgio Moro disse que caixa 2 é “trapaça eleitoral” e não deve ser tratado como crime menor.